Entrevista
do candidato à Presidência da República pela Coligação Muda Brasil, Aécio
Neves
São
João del Rei (MG) - 25-10-14
Assuntos:
eleições 2014; liberdade de imprensa e de expressão
(Seguem
trechos)
Sobre
o final da campanha.
Quero
agradecer muito a todos brasileiros, a todas as brasileiras por aquilo que me
proporcionaram ao longo desses últimos meses. Quero agradecer cada olhar de
confiança, abraço, gesto de carinho com que fui recebido em todas as partes do
Brasil. Encerro essa caminhada onde tudo começou para mim: em São João del Rei,
na casa do meu avô [Tancredo Neves], e trazendo, depois de 30 anos, os mesmos
valores com os quais comecei essa caminhada. A mesma fé cristã que sempre me
acompanhou e a mesma confiança de que a política feita com dignidade, com
responsabilidade, com amor ao próximo, é uma atividade extremamente digna e
insubstituível.
O
resultado da eleição dependerá de cada brasileiro. Mas já me sinto um grande
vitorioso pela caminhada correta que fiz, defendendo valores e apresentando aos
brasileiros a possibilidade de um novo Brasil. Mais generoso, ético e que
enfrente com coragem os problemas reais das pessoas. Hoje, é um dia para mim, do
ponto de vista pessoal, muito, mas muito marcante. Em seguida, vou pedir a
bênção ao meu avô, à minha avó, no cemitério de São Francisco de Assis. Alias,
foi com ele, aqui nesta casa, que dei meus primeiros passos na minha caminhada
politica. Nada mais natural e justo que, ao final dessa longa caminhada, eu vá
lá agradecer e pedir sua bênção na reta final.
O
que eu desejo aos brasileiros é que possam, a partir da reflexão que estão
fazendo, escolher aquele que seja o melhor caminho para o Brasil. Repito:
termino esta caminhada honrado pela acolhida que tive de todos os brasileiros,
praticando os mesmos valores que aprendi nesta mesma casa, neste chão sagrado de
Minas, da minha São João del Rei, e acreditando do fundo da minha alma que a
política feita com dignidade, com honradez, pode transformar de verdade a vida
das pessoas. É isso que me trouxe até aqui. Vamos aguardar os resultados das
urnas, mas já me sinto um vitorioso.
Sobre
como o candidato se sente após 20 dias de ataques.
Revigorado.
Lamentavelmente, essa campanha vai ser marcada e vai ser lembrada pela história
como a mais sórdida de todas as campanhas que o Brasil democrático já assistiu,
por parte dos nossos adversários. Hoje ainda boletins apócrifos estão sendo
apreendidos pela polícia, e essa desconstrução não foi em relação a mim, ela
existiu no passado em relação a outros candidatos, como Marina, Eduardo, e
existirá no futuro, se eles permanecerem no governo, em relação a outros
adversários. Então, o que posso dizer é que chego emocionado pela acolhida, pela
generosidade do povo brasileiro.
E
quero aqui afirmar a vocês, amanhã vencerei essas eleições porque não há
dinheiro, não há infâmia, não há sordidez que vença a verdade, que vença a
consciência dos brasileiros. Estamos prontos para vencer as eleições e dar ao
Brasil um governo decente, um governo honrado, um governo generoso, um governo
que não trate o adversário como um inimigo a ser abatido a qualquer custo. A
democracia conquistada a duras penas, com tantos que ficaram pelo caminho, entre
eles o meu avô Tancredo, não foi feita pra ser utilizada dessa forma, apenas
para se manter no poder. É isso que assistimos ao final dessa caminhada. Mas
hoje a minha alma é leve. Hoje me sinto como alguém que teve a oportunidade de
apresentar ao Brasil um caminho. Eu busquei fazer, com as minhas limitações, mas
com enorme determinação, busquei fazer essa caminhada, busquei apresentar ao
Brasil esse novo caminho. Os brasileiros saberão amanhã tomar a decisão que
acharem que seja mais adequada.
Sobre
o que fará a diferença na votação de amanhã.
A
consciência das pessoas. A reflexão dos brasileiros. No primeiro turno,
aconteceu isso, essa decisão foi tomada por uma parcela importante do eleitorado
na reta final da campanha, nos últimos dias. E acho que é o que está acontecendo
hoje, tenho recebido aqui relatos de todas as partes do Brasil. Não estou
conseguindo ainda responder a todos como gostaria. As pessoas estão nas ruas.
Milhares de pessoas estão nas ruas de São Paulo, estão nas ruas de Belo
Horizonte, de várias outras cidades daqui de Minas, do Rio de Janeiro, eu quase
não conseguia sair hoje cedo no aeroporto, pelo entusiasmo das pessoas. Acho que
conseguimos fazer reacender no seio da população a capacidade de se manifestar,
de ser contra aquilo que está errado.
As
pessoas estão indo para as ruas contra o que estão vendo de errado, contra o PT,
contra a corrupção, contra o desrespeito. Estão indo espontaneamente, estão indo
porque acreditam que têm um papel a desempenhar nesse processo, é o nosso futuro
que está em jogo. Não é o futuro de partidos políticos que está sendo decidido
amanhã. É o futuro de cada brasileiro, de cada brasileira. Recebi agora um
telefonema do prefeito do Recife, Geraldo Júlio, ele falou que é inacreditável o
que está acontecendo nas ruas do Recife, as pessoas estão ocupando a orla
pedindo mudança. Eu falo do Recife porque é um lugar muito emblemático, terra de
Eduardo [Campos], onde eu não tive um bom resultado no primeiro turno. Então,
tem algo novo, e acho que essa já é uma vitória da cidadania. Conseguimos, com a
nossa campanha, reacender no coração das pessoas a capacidade delas se
manifestarem, delas apontarem o caminho que querem, e isso já é uma vitória
extraordinária.
Sobre
a postura do ex-presidente Lula.
Acho
que o ex-presidente se apequenou nessa campanha, optou por desempenhar um papel
que não está à altura de um ex-presidente da República. O que posso dizer é que
ele sai muito menor dessa campanha do que entrou. Eu, como sou um homem
generoso, vou buscar ficar sempre na minha memória com os rasgados elogios que
ele fez a mim ao longo de todo o nosso convívio, como governador de
Minas.
Sobre
as ofensas de Lula terem vindo após o ex-presidente Lula tê-lo chamado de
"amigo".
Apenas
lamento. Acho que o desespero final da campanha, eles percebendo que pela
primeira vez em doze anos haveria, como há, uma possibilidade real de derrota.
Daí o desespero. Mas tudo tem limites. E alguns membros da campanha adversária
ultrapassaram todos os limites. A democracia é o instrumento mais valioso que
temos para buscarmos o nosso caminho, defendermos as nossas propostas. Mas o
pressuposto fundamental é o respeito ao outro lado, às propostas diferentes das
nossas. Não pode ser esse vale-tudo.
Sobre
a apuração amanhã.
Quero
agora aguardar, com muita serenidade, ao lado da minha família. Está aqui hoje
minha mãe, minha irmã, minha mulher, meus filhos, a Gabriela está chegando à
noite. Estou muito feliz. Vou terminar esse dia ao lado da minha família, que me
conforta, e o que me alegra é poder olhar para os olhos de cada um deles, era
aquilo que dizia ontem à noite, lembrando São Paulo. Fiz um bom combate, sem
perder jamais a minha fé.
Sobre
as pesquisas.
Acho
que todos os institutos vão ter que se reciclar, vão ter que tentar compreender
internamente o que aconteceu, porque os erros foram grosseiros em todo o
primeiro turno, até para se qualificarem um pouco mais para as outras eleições.
Mas agora, nesse instante, só tem uma pesquisa importante, a pesquisa que vocês
vão publicar amanhã, que é o voto do cidadão. Não me abalei em momento algum.
Nem me iludi quando as pesquisas me colocaram em uma situação confortável, nem
me desesperei quando as pesquisas me trouxeram para uma situação mais
desconfortável.
O
que eu chego é vivo, porque tenho uma pesquisa muito própria, que é o que eu
estou vendo pelo Brasil. Eu não tenho um instituto, mas tenho a percepção, a
sensibilidade para saber que estamos vencendo. Estamos crescendo em todas as
regiões do Brasil. E acho que podemos vencer com uma margem surpreendente,
porque esse sentimento que está aí é avassalador e contra ele não adianta a
injúria, a ofensa, o dinheiro, não adianta nada. Acho que vai vencer a
consciência dos brasileiros, e vamos vencer nós.
Sobre
o debate de ontem.
Busquei
agir da forma que achei mais adequada, denunciando aquilo que acho errado, me
defendendo dos ataques e tentando apresentar propostas. Os debates no seu
conjunto ajudaram a nossa candidatura, faço essa avaliação. O quanto - se é
decisivo, se é isso que vai virar a eleição, decidir a eleição - não sei. Mas
saio feliz da minha performance em todos os debates.
Sobre
o pior e o melhor momento da campanha.
O
pior momento foi a morte do Eduardo, sem dúvida alguma. Porque ali eu perdi um
amigo, da minha geração, que fazia uma travessia igual a minha, e era óbvio que
eu transferisse para mim também a possibilidade daquela tragédia. Ficou muito
marcado para mim a família do Eduardo, que é uma família extraordinária, quero
aqui de público agradecer à Renata, aos filhos do Eduardo, a forma como se
manifestaram em torno da nossa candidatura nesse final. E aquilo foi muito
marcante pra mim durante um bom período da campanha. Tive que ficar muito firme
para mostrar ainda a mesma determinação.
Agora,
tive inúmeros bons momentos e, inclusive, nesses últimos dias. A forma como fui
recebido no Pelourinho, em Salvador, é algo que jamais vou esquecer. Uma
multidão nos acompanhando com um entusiasmo enorme, depois na Paraíba, no Rio
Grande do Sul, no Rio de Janeiro, o que aconteceu na orla no Rio de Janeiro, em
Belo Horizonte, na Praça da Estação. Tenho na minha memória a fotografia de
momentos absolutamente inesquecíveis e me sinto um privilegiado por ter
participado desses momentos.
Quero
aqui, ao final, agradecer a tantos companheiros de tantos partidos, de tantas
forças da sociedade, através da minha amiga, hoje posso chamá-la assim, Marina
Silva. Quero dizer à Marina que a sua presença na política brasileira oxigena,
fortalece a boa política, nos traz esperança. Estou muito agradecido a tantas e
tantos brasileiros que participaram conosco dessa caminhada e faço esse
agradecimento através da Marina e também de forma muito especial da Renata
Campos e da sua família.
Sobre
ataques à sede da Editora Abril.
Assistimos,
ontem e hoje, um atentado contra a democracia, contra a liberdade de expressão,
o que já é uma marca extremamente preocupante dos nossos adversários. Ao
tentarem invadir e depredarem a fachada de um importante veículo de comunicação,
manifestantes não atingem aquele veículo. Atingem o que temos de mais valioso
que é liberdade de expressão no Brasil, liberdade de imprensa. A democracia vive
disso, das, manifestações. E as contrárias têm que ser respeitadas. E o alvo foi
o alvo errado, porque o que essa revista, e hoje outros veículos de comunicação
fazem, é comunicar. Eles são, na verdade, os vasos transmissores das
informações. E ao tentar proibir a veiculação dessa revista, aí sim, há uma
demonstração clara do Partido dos Trabalhadores do seu descompromisso com a
democracia e com a liberdade de expressão.
É
um atentado que deve receber o repúdio de todos os brasileiros da forma mais
veemente possível. Uma boa forma de demonstrar esse repúdio é indo às urnas
amanhã para valorizar a democracia, para apontar um novo caminho para o Brasil.
No meu governo, e disse isso no preâmbulo do meu programa de governo, falo de
valores. E falo que o principal, o maior deles, é o respeito às liberdades -
coletivas e individuais - e, em especial, à liberdade de manifestação, à
liberdade de imprensa. No meu governo ela será absolutamente assegurada. Não
continuará sendo ameaçada constantemente como vem sendo por esse governo e que
culmina, agora, com esse ato de vandalismo absolutamente inaceitável. Deve
receber o repúdio de vocês, profissionais da imprensa, e de todos os cidadãos e
cidadãs de bem desse país.