MP investiga se a ex-chefe do gabinete da Presidência, Rosemary Noronha, fez lobby para beneficiar ONGs
AGENDA DE
RESULTADOS
Rose se reunia com representantes de ONGs que, depois,
conseguiam acesso a programas do governo federal
Rose se reunia com representantes de ONGs que, depois,
conseguiam acesso a programas do governo federal
Uma investigação paralela à Operação Porto Seguro, da Polícia
Federal, apura, desde o último mês, se instituições não governamentais foram
beneficiadas pelo governo federal graças à influência da ex-chefe de gabinete da
Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha. Segundo o Ministério
Público Federal, há indícios de que Rose participava de uma intrincada rede de
lobby montada com o objetivo de facilitar a celebração de convênios entre
organizações sem fins lucrativos e o poder público. Nessa segunda fase de
análise dos documentos apreendidos pela PF, intrigou os procuradores o
crescimento das atividades do Instituto Actos, após sucessivas intervenções de
Rosemary. O Actos, que passou a figurar como investigado, no final do ano
passado, tem como fundadora Sylvia Pariz. Ela trabalhou como funcionária do
Ministério da Cultura durante três anos por indicação justamente da ex-chefe de
gabinete da presidência da República. Exonerada depois de responder a um
processo administrativo por improbidade, Sylvia Pariz decidiu fundar o instituto
e teria, segundo as investigações preliminares, contado com a ajuda de Rosemary
para estruturar a organização e credenciá-la a receber recursos
públicos.
Desde 2008, Sylvia e Rosemary mantinham encontros frequentes
na sede da Presidência em São Paulo ou em restaurantes da capital paulista. A
análise dos documentos pelo MPF revelou que as reuniões foram no mínimo
oportunas. Depois dos encontros, o instituto passou a fechar convênios na
Esplanada dos Ministérios e receber autorizações para captar recursos para
projetos. Essas coincidências entre as reuniões e os benefícios que eram
concedidos em seguida começaram ainda no processo de criação do Actos. Em
dezembro de 2007, o Ministério da Justiça negou o pedido do instituto de se
transformar em uma Oscip (Organização de Sociedade Civil de Interesse Público).
Esta chancela é necessária para que a entidade possa atuar como prestadora de
serviço público. Preocupada com a negativa do registro, Sylvia Pariz almoçou com
Rosemary no Hotel Transamérica, em São Paulo no mês seguinte à negativa.
Quarenta dias depois do encontro, o Ministério da Justiça reverteu a decisão e
concedeu o registro ao Actos. A organização ganhou autorização para funcionar e
logo firmou convênios de cooperação. O primeiro deles foi com o Ministério do
Desenvolvimento Agrário. Fechada a parceria, o instituto passou a atuar na
distribuição de livros no programa Arca das Letras, que foi implantado nas
regiões rurais do País.
FACILIDADES
Sede da Actos, favorita em convênios fechados na Esplanada
dos Ministérios, está registrada em prédio residencial
Sede da Actos, favorita em convênios fechados na Esplanada
dos Ministérios, está registrada em prédio residencial
Depois das reuniões entre Sylvia e
Rose, o Actos também obteve recursos do Ministério da Cultura. Apesar de ter
deixado o órgão pela porta dos fundos sob acusações de gastar dinheiro público
irregularmente, Sylvia conseguiu R$ 616 mil para projetos de instalação de
bibliotecas comunitárias. Além de Sylvia, o comando do Actos inclui seu irmão
Djay Pariz Campos – também egresso do Ministério da Cultura – e Patrícia Secco.
A sócia dos Pariz Campos na entidade é uma especialista em captar recursos
governamentais. Patrícia aparece no quadro societário de outras três entidades
sem fins lucrativos que recebem recursos do governo há mais de uma década.
Procurados pela reportagem de ISTOÉ, ninguém do instituto quis comentar as
investigações. “Estou chegando de viagem e não posso comentar nada disso agora”,
esquivou-se Djay Pariz, que também não respondeu aos emails encaminhados a ele e
à sua irmã.
Na volta do recesso parlamentar, o PPS tentará encurralar Rosemary Noronha para que ela
explique sua atuação no governo e suas relações com instituições como o Actos. O
partido já pediu ao Ministério Público em São Paulo a quebra dos sigilos
bancário, fiscal e telefônico da ex-chefe de gabinete da Presidência. O líder do
partido, deputado paranaense Rubens Bueno, disse que a medida é necessária para
esclarecer se houve tráfico de influência. “As investigações avançam e cada vez
mais aumentam as suspeitas de que ela se utilizava do cargo”, diz
Bueno


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